terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Salto.

Não dá pra saber se vai dar certo. É possível que, lá adiante, haja uma mesa numa pizzaria, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com bobo afinco, adiando o momento de dizer o que precisa ser dito. Talvez, lá adiante: mais precisamente entre o silêncio que pode estar nos aguardando e o presente -- você acabou de sair da minha varanda, seu cheiro persiste e consegue ainda surgir vez ou outra pelo quarto, naquela minha camiseta estampada com um diabinho, naquela outra que traz a estampa dos Rolling Stones –, quem sabe não seremos felizes? Entre a realidade do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. Não digo três, para fugir enfim, do pieguismo.
Passos improvisados de alguma dança engraçada e risadas, no corredor da nossa casa. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve sim ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de sua ‘necessaire’ (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, uma singela batata frita, cafunés, banhos de piscina – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com a movimentação inconstante da água-- mãos dadas no cinema tão grande, uma poltrona verde e gorda que pode ser comprada num antiquário, um tatu bola na grama da casa de praia dos meus pais, algumas cidades domesticadas sob nossa vã existência, cada postal pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.



( Texto escrito por um amigo.)

Alex F.




Um comentário:

Isaac disse...

Quando comecei ler o texto logo pensei: Putz! Pillar botou pra fuder.

Aí tu me diz que o texto não é teu?! ¬¬'